Antes de entrar no assunto que quero tratar,
vou trazer 5 dados/notícias para nos servir de norte e introdução.
Primeiro: em sua coluna de 26.1.22, o Capiau nos confidenciou que um
conselheiro seu está desiludido com as lideranças políticas, que gostaria de
caras novas, com novas propostas, e que políticos antigos, como o ex-prefeito Barjas
Negri (PSDB) não são estrategistas por não abrirem espaço para novas lideranças.
Segundo: em seu texto publicado em
14.1.22, cujo título era “as tubulações não são visíveis”, Oscar Júnior, meu amigo de
trincheira na advocacia, foi certeiro. Demonstrou que os caciques querem se
manter no poder e têm dificuldade para aceitar que a “fonte secou”.
Terceiro: o site Congresso em Foco, em
24.12.2021, publicou matéria com a seguinte manchete: “painel do poder: mais de 70% dos
parlamentares devem disputar as eleições de 2022”.
Quarto: o fundo eleitoral este ano deverá ser
de R$5,7 bilhões.
Quinto: Carolina Angelelli (PDT), em sua
coluna de sábado, 29.1.22, cujo título foi “seria a barata elegendo no
inseticida?”, apontou um caminho que está nas mãos dos eleitores.
Parecem todos assuntos desconexos, mas no fundo acabam guardando
relações entre si.
O problema identificado pelo conselheiro do nosso querido
Capiau é antigo, já o identificamos até mesmo na Bíblia. Josué apesar de grande
líder não formou uma nova liderança, depois de sua morte o caos se instalou em Israel.
O problema antigo se repete ao longo da nossa história.
Concordo com o conselheiro do Capiau, nossa cidade está carente de novas
lideranças e muito em razão dos velhos caciques, não só Barjas Negri, mas
Roberto Morais (Cidadania), que já está há 6 mandatos na Assembleia Legislativa
e é pré-candidato novamente, Ary Pedroso Jr. (Solidariedade), que está há 7
mandatos na Câmara Municipal, vou parar por aqui, mas se pensarmos em
associações, entidades sindicais, etc., a lista fica interminável.
Em nível nacional, os ex-Presidentes Fernando Henrique
Cardoso (PSDB) e Luis Inácio Lula da Silva (PT) são mais dois exemplos de
lideranças políticas que não se preocuparam ou preocupam com a formação de
novas lideranças.
Depois que Fernando Henrique Cardoso deixou a presidência,
apesar de não ter voltado a disputar o cargo, o PSDB nunca mais conseguiu
assumir o posto, muito porque não se preocupou no momento oportuno com a
formação de uma nova liderança de caráter nacional. Seu partido disputou de
maneira inexitosa a cadeira com 3 candidatos diferentes nos últimos anos.
Lula, então, nem se diga. Em 2018, inventou uma candidatura
“fake” para não permitir que a liderança que surgia, Ciro Gomes (PDT), se
consolidasse e vencesse Bolsonaro (PL). Podemos até discutir os vícios do
processo, mas o fato é que possuía condenações em segunda instância e isto
notoriamente o tornava inelegível, por isso, era uma candidatura “fake”.
À época, segundo as pesquisas de intenção de votos, Ciro
Gomes era o único que venceria Bolsonaro no segundo turno. Mas, Lula preferiu lançar
Fernando Haddad (PT) mesmo sabendo que este seria derrotado, pois confiava que
voltaria ao cenário político e com o desastre anunciado do governo Bolsonaro
ressurgiria como o Salvador da Pátria.
A estratégia de Lula, segundo as pesquisas de intenção de
voto, aparentemente vem dando certo, ao menos no âmbito eleitoral, mas,
mostra-se uma estratégia de perpetuação no poder e que representa uma volta ao
passado. Um retrocesso.
Como citado acima, os caciques do Congresso também têm
dificuldade de “largar o osso”, pois 70% já manifestaram suas intenções de
buscar a reeleição ou concorrer a outros cargos.
Essa perspectiva de a maioria dos parlamentares continuarem
na disputa eleitoral nos ajuda a entender o valor estratosférico do fundo
eleitoral (R$5,7 bilhões). Estão legislando em causa própria.
Seria importante os velhos caciques entenderem que a fonte
secou, deixando as novas e jovens lideranças florescerem. Não digo que devam
sair da vida pública, pelo contrário, como se diz no jargão empresarial, devem
ser mentores e tutores dos mais jovens.
Além de mentores e tutores, os mais antigos ainda têm
participação fundamental, por exemplo, no momento de crise e de caos, quando
devem emprestar suas experiências para serenar ânimos e ajudar na reconstrução.
Mas, historicamente, como vimos isto vem desde bíblicos, os
líderes têm dificuldades de deixarem novas lideranças florescerem, e até que
tenham essa consciência, cabe a nós jovens buscarmos nossos espaços, mostramos
nossa qualidade.
Muitas vezes seremos taxados como oportunistas, outras
dirão que somos rebeldes. Oportunismo não é querer ocupar seu espaço, querer se
mostrar como alternativa, oportunismo é não perceber que a fonte seca.
Outras vezes, dirão que somos rebeldes, mas, daí havemos de
concordar, possuímos a rebeldia da esperança, como disse Ciro Gomes no
lançamento de sua pré-campanha.
Para quebrar esse vício imposto pelos velhos caciques, o eleitor
também pode desempenhar papel de fundamental importância, que é buscar
identificar novas lideranças com quem tenham afinidade ideológica e que possam
melhor representar suas causas, como didaticamente demonstrou Carolina
Angelelli em sua coluna de sábado, 29.1.22. Quem não leu, vale a pena ler.
Max
Pavanello, advogado, vice-presidente do PDT de Piracicaba, Conselheiro Estadual
da OABSP.