sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

É preciso abrir espaço para o novo

 


 

Antes de entrar no assunto que quero tratar, vou trazer 5 dados/notícias para nos servir de norte e introdução.

 

Primeiro: em sua coluna de 26.1.22, o Capiau nos confidenciou que um conselheiro seu está desiludido com as lideranças políticas, que gostaria de caras novas, com novas propostas, e que políticos antigos, como o ex-prefeito Barjas Negri (PSDB) não são estrategistas por não abrirem espaço para novas lideranças.

 

Segundo: em seu texto publicado em 14.1.22, cujo título era “as tubulações não são visíveis”, Oscar Júnior, meu amigo de trincheira na advocacia, foi certeiro. Demonstrou que os caciques querem se manter no poder e têm dificuldade para aceitar que a “fonte secou”.

 

Terceiro: o site Congresso em Foco, em 24.12.2021, publicou matéria com a seguinte manchete: “painel do poder: mais de 70% dos parlamentares devem disputar as eleições de 2022”.

 

Quarto: o fundo eleitoral este ano deverá ser de R$5,7 bilhões.

 

Quinto: Carolina Angelelli (PDT), em sua coluna de sábado, 29.1.22, cujo título foi “seria a barata elegendo no inseticida?”, apontou um caminho que está nas mãos dos eleitores.

 

Parecem todos assuntos desconexos, mas no fundo acabam guardando relações entre si.

 

O problema identificado pelo conselheiro do nosso querido Capiau é antigo, já o identificamos até mesmo na Bíblia. Josué apesar de grande líder não formou uma nova liderança, depois de sua morte o caos se instalou em Israel.

 

O problema antigo se repete ao longo da nossa história. Concordo com o conselheiro do Capiau, nossa cidade está carente de novas lideranças e muito em razão dos velhos caciques, não só Barjas Negri, mas Roberto Morais (Cidadania), que já está há 6 mandatos na Assembleia Legislativa e é pré-candidato novamente, Ary Pedroso Jr. (Solidariedade), que está há 7 mandatos na Câmara Municipal, vou parar por aqui, mas se pensarmos em associações, entidades sindicais, etc., a lista fica interminável.

 

Em nível nacional, os ex-Presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luis Inácio Lula da Silva (PT) são mais dois exemplos de lideranças políticas que não se preocuparam ou preocupam com a formação de novas lideranças.

 

Depois que Fernando Henrique Cardoso deixou a presidência, apesar de não ter voltado a disputar o cargo, o PSDB nunca mais conseguiu assumir o posto, muito porque não se preocupou no momento oportuno com a formação de uma nova liderança de caráter nacional. Seu partido disputou de maneira inexitosa a cadeira com 3 candidatos diferentes nos últimos anos.

 

Lula, então, nem se diga. Em 2018, inventou uma candidatura “fake” para não permitir que a liderança que surgia, Ciro Gomes (PDT), se consolidasse e vencesse Bolsonaro (PL). Podemos até discutir os vícios do processo, mas o fato é que possuía condenações em segunda instância e isto notoriamente o tornava inelegível, por isso, era uma candidatura “fake”.

 

À época, segundo as pesquisas de intenção de votos, Ciro Gomes era o único que venceria Bolsonaro no segundo turno. Mas, Lula preferiu lançar Fernando Haddad (PT) mesmo sabendo que este seria derrotado, pois confiava que voltaria ao cenário político e com o desastre anunciado do governo Bolsonaro ressurgiria como o Salvador da Pátria.

 

A estratégia de Lula, segundo as pesquisas de intenção de voto, aparentemente vem dando certo, ao menos no âmbito eleitoral, mas, mostra-se uma estratégia de perpetuação no poder e que representa uma volta ao passado. Um retrocesso.

 

Como citado acima, os caciques do Congresso também têm dificuldade de “largar o osso”, pois 70% já manifestaram suas intenções de buscar a reeleição ou concorrer a outros cargos.

 

Essa perspectiva de a maioria dos parlamentares continuarem na disputa eleitoral nos ajuda a entender o valor estratosférico do fundo eleitoral (R$5,7 bilhões). Estão legislando em causa própria.

 

Seria importante os velhos caciques entenderem que a fonte secou, deixando as novas e jovens lideranças florescerem. Não digo que devam sair da vida pública, pelo contrário, como se diz no jargão empresarial, devem ser mentores e tutores dos mais jovens.

 

Além de mentores e tutores, os mais antigos ainda têm participação fundamental, por exemplo, no momento de crise e de caos, quando devem emprestar suas experiências para serenar ânimos e ajudar na reconstrução.

 

Mas, historicamente, como vimos isto vem desde bíblicos, os líderes têm dificuldades de deixarem novas lideranças florescerem, e até que tenham essa consciência, cabe a nós jovens buscarmos nossos espaços, mostramos nossa qualidade.

 

Muitas vezes seremos taxados como oportunistas, outras dirão que somos rebeldes. Oportunismo não é querer ocupar seu espaço, querer se mostrar como alternativa, oportunismo é não perceber que a fonte seca.

 

Outras vezes, dirão que somos rebeldes, mas, daí havemos de concordar, possuímos a rebeldia da esperança, como disse Ciro Gomes no lançamento de sua pré-campanha.

 

Para quebrar esse vício imposto pelos velhos caciques, o eleitor também pode desempenhar papel de fundamental importância, que é buscar identificar novas lideranças com quem tenham afinidade ideológica e que possam melhor representar suas causas, como didaticamente demonstrou Carolina Angelelli em sua coluna de sábado, 29.1.22. Quem não leu, vale a pena ler.

 

Max Pavanello, advogado, vice-presidente do PDT de Piracicaba, Conselheiro Estadual da OABSP.