sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Resultado das eleições: houve um vencedor!

 

Tenho participado ativamente de eleições desde o início dos anos 2000, primeiramente de eleições na minha entidade de classe, a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, depois de eleições partidárias.

 

Na OAB, ganhamos algumas, perdemos outras, como em qualquer disputa. Nas eleições partidárias, desde a reeleição de Fernando Henrique Cardoso – sim, já fiz essa besteira, quem nunca errou que atire a primeira pedra, os candidatos em que votei em 1° turno nunca ganharam.

 

Mas, não reconhecer a derrota nunca foi uma opção.

 

Em 2012, disputei a presidência da OAB Piracicaba, ao perder a disputa, a primeira coisa que fiz foi reconhecer a derrota, parabenizar o vencedor, Dr. Fábio Ferreira de Moura, e desejar-lhe uma profícua gestão.

 

Ganhar ou perder faz parte do jogo democrático.

 

Uma breve consideração acerca do sistema eleitoral.

Há algum tempo, o presidente (em letra minúscula, pois ele não merece outro tratamento) da República tem feito discursos buscando desacreditar o sistema eleitoral, notadamente as urnas eletrônicas.

 

Por causa desse irresponsável discurso, o Tribunal Superior Eleitoral – TSE submeteu as urnas a uma série de testes, sendo que em todos, sem exceção, não foi apontado erro ou fraudes. As urnas sempre passaram por testes, mas neste ano foram ampliados e intensificados.

 

A OAB São Paulo foi uma das que participaram dos testes, todos os Conselheiros, na sessão ocorrida em agosto, foram convidados a preencher cédulas de papel com os números que quisessem, poderiam ser números de candidatos ou números para anular o voto.

 

No dia anterior às eleições, forma sorteadas urnas aleatoriamente pelo Estado de São Paulo, a Presidente da OABSP Patrícia Vanzolini (essa com P maiúsculo) foi uma das autoridades que participaram sorteando uma urna. Além da OABSP, outras entidades e instituições participaram, como FIESP, SESC, SENAC, Comando do Exército, CGU, dentre outras. Também, alguns partidos estiveram presentes e participaram ativamente, como por exemplo o Patriota – o mesmo daquela candidata que tem feito discurso para desacreditar o sistema eleitoral.

 

Nas cidades circunvizinhas, a urna da seção 0053, zona 0142, de Tietê, foi selecionada para ser submetida ao teste.

 

Resumidamente, o teste consiste em emitir a “zerézima” (boletim de urna emitido para se comprovar que não havia votos nas urnas), digitam-se os números constantes das cédulas na frente de todos que acompanham, e ao final é emitido o boletim de urna, e totalizado os votos das urnas que são confrontados com os votos das cédulas.

 

Este foi apenas um dos testes, e todos revelaram o óbvio, o sistema eleitoral é íntegro.

 

Polarização I

Vivemos num país dividido. Referida divisão não é fruto do momento, é uma construção de anos.

 

Teve seu início com a disputa entre PSDB e PT, que se antagonizavam no cenário político, começando o discurso do nós contra eles, do bem contra o mal. Como ainda estava no início, outros partidos e políticos também se destacavam, por isso, pouca radicalização existia, ainda era possível ter posicionamento diferente.

 

O auge da polarização entre PT e PSDB se deu em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) foi eleita com 51,64% dos votos válido, contra 48,36% de Aécio Neves (PSDB).

 

Mau perdedor I

Aécio Neves (PSDB), ao perder com margem tão apertada, mostrando-se mau perdedor, não reconheceu a derrota, resolveu questionar o resultado da eleição perante o Poder Judiciário.

 

O questionamento feito por Aécio Neves (PSDB) ainda possuía contornos democráticos, pois buscou a via adequada, o TSE.

 

Mas, a figura do candidato a presidente, notadamente o candidato a Presidente da República, vai além da participação na eleição. O candidato a Presidente da República representa uma ideia, uma concepção de nação, é alguém que recebe milhões de votos, por isso, é uma grande liderança.

 

Alguns de seus seguidores ficam cegos, ao ponto de acreditar em tudo o que é dito por ele, sem parar para fazer uma reflexão. Algo semelhante com a liderança religiosa.

 

Aécio, em 2014, deixou um sinal, o povo continuou dividido, mergulhou o país numa enorme crise política, que nos levou ao impeachment da Presidente Dilma (PT). Nunca mais saímos dessa crise.

 

Polarização II

A polarização continuou se agravando, mas com a perda de espaço do PSDB, que ouso dizer foi provocado pelo próprio Aécio Neves, quando se recusou a reconhecer a derrota, mudaram-se os antagonistas. Deixou de ser PSDB x PT, passou a ser Bolsonaro x PT.

 

Porém, o que era uma polarização política, passou a ser uma polarização raivosa.

 

Temos vivenciado temos sombrios, em que se mata pelo simples fato de ser adversário político.

 

Tivemos bolsonaristas matando petistas no Paraná, no Ceará, em Minas Gerais. Tivemos o Deputado Bibo Nunes (PL-RS) dizendo que estudantes universitários de Santa Maria (RS) merecem morrer queimados, em alusão às vítimas da Boate Kiss. Tivemos o ex-Deputado Federal Roberto Jefferson (PTB) atirando em Policiais Federais e a Deputada Federal Carla Zambelli (PL) empunhando arma e ameaçando matar um homem negro.

 

Cenas dantescas e inimagináveis há alguns anos, frutos de uma radicalização e de uma cegueira coletiva, produzida por um personagem abjeto que comanda a nação e que deu voz aos piores sentimentos dos seres humanos.

 

Com frases como: “vamos metralhar petralhas”; “o grande erro da ditadura foi não matar vagabundos e canalhas como Fernando Henrique”; “o objetivo é fazer o cara abrir a boca. O cara tem que ser arrebentado para abrir o bico”; “gastaram muito chumbo com o Lamarca. Ele devia ter sido morto a coronhadas”; “o erro da ditadura foi torturar e não matar!”; “Pinochet devia ter matado mais gente”; “Não vou estuprar você porque você não merece”, Bolsonaro foi incutindo na cabeça dos brasileiros sentimentos de ódio, racismo, xenofobia, mas, por incrível que pareça, ganhou seguidores.

 

Aliás, o que é mais inacreditável é que os seus seguidores dizem que ele representa os ideais cristãos (Deus, Pátria e Família). Ora, que Cristo é esse? Desculpem-me, não conheci a esse Cristo, e nem quero. Prefiro continuar com aquele que conheci nas igrejas evangélicas que frequento desde que nasci.

 

Mau perdedor II

Como Aécio Neves (PSDB), Bolsonaro (PL) se mostrou um mau perdedor.

 

Mas, não se conteve em seguir apenas o velho político mineiro, resolveu radicalizar, como é próprio de seu caráter, e seguiu a linhas mestras de Donald Trump, ex-presidente dos EUA.

 

Como Trump, não reconheceu a derrota, não deu o tradicional telefonema ao vencedor, não fez uma declaração pública logo após a apuração. Levou 48 horas para se pronunciar e quando o fez, proferiu discurso lacônico, que cada um o interpretou como quis.

 

Referidos atos são simbólicos, mas são marco importante, pois sinalizam para seus seguidores que a eleição acabou e que os ânimos devem ser serenados.

 

O silêncio eloquente de Bolsonaro cumulado com o discurso de não confiabilidade do sistema eleitoral foi o estopim para que seus seguidores saíssem às ruas para fechamento de rodovias, prejudicando trabalhadores e cidadãos.

 

Manifestações e protestos pacíficos são garantidos constitucionalmente, mas, manifestações contra o sistema eleitoral (previsto na Constituição), contra as urnas eletrônicas e motivadas por insatisfação contra o resultado das eleições, são antidemocráticos e inconstitucionais. São inadmissíveis.

 

É preciso seguir

Os resultados das eleições já foram proclamados. Houve um vencedor!

 

Ainda que a diferença entre os dois candidatos tenha sido mínima (a menor da história), ainda que não se goste do vencedor (o índice de rejeição de Lula (PT), segundo as pesquisas, só não é maior que o do próprio presidente), há um vencedor, e o resultado das eleições devem ser respeitados.

 

É preciso serenar os ânimos, deixar o fluxo seguir, retornarmos à normalidade.

 

No estado democrático de direito há eleições periodicamente, daqui a 4 anos teremos outra, vencerá quem conseguir convencer o maior número de eleitores que sua concepção de nação é a melhor.

 

Desta vez venceu Lula (PT), desejo-lhe que consiga reunificar o país, recoloque-o nos trilhos e faça uma profícua gestão.

 

 

Max Pavanello

Advogado


Texto publicado em A TRIBUNA PIRACICABANA, edição de 04 de novembro de 2022.