segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Vou-me embora pra Pasárgada - Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada é uma daquelas poesias que tenho gravada na mente, que me remete à época do Colegial, hoje ensino médio (acho que é isso), poesia de Manuel Bandeira.
 

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei 
Lá tenho a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconsequente 
Que Joana a Louca de Espanha 
Rainha e falsa demente 
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica 
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo 
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar! 
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
 
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
 
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora
pra Pasárgada.


Manuel Bandeira

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