quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Esdrúxulo


Como dizia meu antigo Professor de Literatura, Itapê, não existe palavra no nosso vernáculo mais esdrúxula do que a palavra esdrúxulo(a).
 
Da mesma forma, não existe dizeres mais infelizes do que dizer: “TROCARIA MEU TÍTULO MUNDIAL PELA VIDA DESSE GAROTO”. A frase infeliz foi dita pelo técnico do Corinthians, Tite.
 
Não se compara unidades de medidas diferentes, litros com metros, da mesma forma não se pode comparar conquista esportiva com uma vida humana.
 
Entendo, porém, que isso foi dito em meio à consternação e emoção de saber do falecimento de uma criança, não jovem, como ouvi, mas uma criança, e o estado emocional pode atenuar a impropriedade da fala.
 
Sábado último, 16/02/2013, fui ao Barão da Serra Negra assistir a XV de Piracicaba contra Guarani, levei meu filho de quase 04 anos, sou dos que defendem que estádio de futebol é local de lazer para todos, inclusive crianças, em que pese, provavelmente não ser lazer para o Enzo (meu filho), pois dormiu no segundo tempo.
 
Coloco-me no lugar do pai dessa criança, já não bastasse a dor incomensurável da perda do filho em tão tenra idade, ter de ouvir “TROCARIA MEU TÍTULO MUNDIAL PELA VIDA DESSE MENINO”, se é que ouviu, e espero que não tenha ouvido, é o agravamento da dor, pois a comparação da vida do filho a uma mera conquista esportiva (por mais significativa que seja) é muito pequeno, é diminuir o valor da vida humana.
 
Grande porcaria um título mundial perto da vida de um filho, de uma criança de 14 anos, de um ser humano de QUALQUER idade!!! Como diz Milton Neves, comentarista esportivo, futebol é a coisa mais importante dentre as MENOS importantes.
 
Se consigo até atenuar a infelicidade do técnico Tite, pelo calor da emoção ao dizer a impropriedade, o que não consigo entender é a imprensa repercutir como se fosse algo significativo para alguém a troca de um título esportivo pela vida do menino, pois passadas algumas horas, necessárias para se fazer uma reportagem, é possível se esfriar a cabeça e refletir sobre a infelicidade da comparação.
 
Todos sabem que sou Quinzista e Palmeirense, não estou de forma alguma diminuindo a importância do título mundial do Tite (ele disse MEU), só não consigo ver o mínimo de comparação entre o título e a vida do menino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário