Sabe aquela máxima de que o ano no Brasil começa depois do Carnaval? Pois bem, é quase isso.
O ano legislativo e o judiciário começam no dia 1º de fevereiro. Cada órgão possui um início diferente do recesso, mas que termina oficialmente no dia 31 de janeiro.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – STF
Como dia 1º de fevereiro é sábado, a abertura oficial do ano judiciário está marcada para a segunda-feira, 03, já a primeira sessão ordinária (de julgamentos) está designada para o dia 05.
Na pauta da primeira sessão ordinária estão três assuntos: proibição de revistas vexatórias em presídios, que visa proibir desnudamento e revistas em cavidades corporais – o placar no plenário virtual estava 6 a 4 em favor da proibição, mas o ministro Alexandre de Morais pediu destaque, por isso, volta para a sessão presencial; julgamento de uma arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) proposta pelo PSB, chamada de ADPF das Favelas, cujo objetivo é diminuir o grau de letalidade das operações policiais nas comunidades do Rio de Janeiro – em novembro de 2024, houve a leitura do relatório e as sustentações orais, mas, nenhum ministro proferiu voto; e, mais uma ADPF, esta proposta pela OAB contra portarias do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos – à época conduzido por Damares Alves (PL), que anularam atos declaratórios de anistia política a cabos da Aeronáutica afastados no início da ditadura militar.
Além desses processos pautados, durante o ano o STF se debruçará sobre questões de alta relevância, como, por exemplo, responsabilização da imprensa pela imputação falsa de crimes; Marco Civil da Internet – regulação das mídias sociais; discussão sobre a lei das apostas esportivas (Lei das Bets) – o relator já decidiu liminarmente pela proibição de publicidade direcionada para crianças e pela proibição de utilização de dinheiro de programas sociais; relações de trabalho por aplicativos – discussão acerca da natureza jurídica da relação entre trabalhadores e plataformas de aplicativo; discussão acerca da transparência das emendas parlamentares; dentre outras.
SENADO FEDERAL
No Senado Federal é ano de troca de comando. O senador Rodrigo Pacheco (PSD) deixa a presidência da Casa, junto com a mesa diretora, por isso, teremos eleição.
Como não é permitida a reeleição dentro da mesma legislatura, o senador Rodrigo Pacheco não pode concorrer novamente.
Hoje, há quatro candidatos, sendo o favorito Davi Alcolumbre (União Brasil), que possui apoio tanto do presidente Lula (PT) como do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Também, estão na corrida, com candidatura registrada, Eduardo Girão (Novo), Marcos do Val (Pode) e Marcos Pontes (PL). Este último, porém, encontra resistência do seu próprio partido, que já declarou apoio abertamente para Alcolumbre, e sofre pressão interna para desistir. Houve, inclusive, troca de fartas pela imprensa entre ele e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A grande preocupação do PL é que com a provável derrota da candidatura própria (Marcos Pontes) o partido ficaria alijado das principais comissões do Senado, que são importantes para o debate político.
Davi Alcolumbre, que começou sua vida política no PDT, é natural do Macapá-AP, tem 47 anos e está em seu segundo mandato como Senador, atualmente é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e já foi presidente da Casa.
CÂMARA FEDERAL
Na Câmara de Deputados, que também proíbe a reeleição dentro da mesma legislatura, igualmente é ano de eleição. Arthur Lira (PP) deixa o comando da Casa depois de dois mandatos consecutivos, o primeiro na legislatura passada.
O favorito da corrida eleitoral é o deputado Hugo Motta (Republicanos), que conta com o apoio de Arthur Lira. Dentre todas as agremiações partidárias, as duas únicas que não aderiram à sua candidatura são NOVO e PSOL, que terão candidatos próprios, Marcel van Hattem e Pastor Henrique Vieira, respectivamente.
Hugo Motta possui 35 anos, é médico e natural de João Pessoa-PB. Está no seu quarto mandato na Câmara. É muito bem relacionado, com trânsito em todas as alas ideológicas. Atualmente é líder do Republicanos na Câmara, já foi vice-líder de diferentes blocos partidários na Casa, sendo parte da base dos governos Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Bolsonaro.
PAUTAS DO CONGRESSO NACIONAL
Não é difícil prever que as pautas do Senado e da Câmara serão recheadas de disputas ideológicas, algumas, diga-se, sem o menor sentido, verdadeira perda de tempo, que servem apenas para garantir “likes” nas redes sociais.
Mas, teremos assuntos importantes, como:
- Reforma do Código Civil – uma comissão formada por juristas de renome entregou ao Senado uma proposta de reforma e atualização do Código Civil;
- Reforma tributária – após a aprovação inicial em 2024, o Congresso continuará a regulamentação da reforma tributária, focando na implementação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que inclui a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS);
- Reformas trabalhistas e sociais – a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) tem 17 propostas prontas para votação, incluindo o aumento da licença-maternidade para mães de recém-nascidos prematuros e a revogação de artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que permitem que convenções ou acordos coletivos prevaleçam sobre a legislação trabalhista;
- Regulação das plataformas digitais - o Ministério da Cultura está trabalhando para lançar um serviço de streaming público e busca avançar na regulação de plataformas digitais;
- Ajuste fiscal – o Governo Federal encaminhou no final de 2024 uma proposta para reequilíbrio das contas públicas, que membros da oposição e alguns economistas consideraram tímida e insuficiente, e certamente gerará grande debate.
Desa feita, o Carnaval é somente em março (04), mas, o ano começa oficialmente amanhã.
Max Pavanello
Advogado, presidente do PDT de Piracicaba, conselheiro estadual da OABSP
Texto publicado em A Tribuna Piracicabana, edição 13559, de 31/01/2025.